Recheio
Num bar, na esquina, no centro. Vazio:
- Não acredito que você falou isso.
- Qual o problema, é um elogio como qualquer outro.
- Elogio? Para uma mulher? Quem é você?
- Sou eu pô, sempre fui assim.
- Burro?
- Não.
- Idiota?
- Também não.
- Patético.
- Ah cara, nem é para tanto.
- Lógico que não, o sonho de toda namorada é ser chamada de "recheada". Não vejo como não poderiam gostar.
- Pois é, não vejo também.
- Porque você não chamou de gostosa?
- Batido.
- De gata.
- Muito pudico.
- Você está impossível hoje. Fica ligado que essa mina nunca mais vai querer saber de você.
Num salão de beleza, no meio da quadra, no bairro. Lotado:
- Recheada? Que diabos ele quis dizer com isso?
- E eu que vou saber.
- Como você reagiu?
- Como uma dama, fiz uma cara bem feia, dei-lhe as costas e fui embora, mas me arrependi.
- Porque?
- Aposto que ele ficou olhando meu traseiro recheado.
- Ah, para com isso.
- Agora eu mal consigo olhar para mim no espelho.
- Deixa disso Carlinha, você sempre foi voluptuosa.
- Isso sim, mas nunca fui recheada. Estou me sentindo uma bolacha, um frango, uma gorda.
- Ah, nem é para tanto, as vezes os homens querem dizer uma coisa e acabam falando uma bobagem dessas.
- Será?
- Lógico, aposto que ele queria dizer que você era gostosa, uma gata.
- E porque não disse?
- As vezes ele tentou ser mais safado e diferente.
- Hahaha, até parece.
Em outro lugar, meio que por ali, nas bandas de lá. Nem assim, nem assado:
- Você soube a última da Carlinha e do Rafa?
- Sim, "recheada", hehehe.
- Coitado do idiota.
- Coitada da gordinha.
- Um brinde.